Pão Quentinho

Tempo de nos “colocarmos”!Por Renato Luiz Becker - 13/10/10


Os mineiros chilenos continuam sendo salvos do soterramento que sofreram há 700 metros de profundidade, enquanto escrevo esta meditação. Eles experimentaram grande crise que durou mais de dois meses. Neste momento a mídia nos informa que todo esse “processo de angústia” começa a chegar ao seu final. Nada será como antes para aqueles 33 homens. Eles, como poucos, tiveram tempo para refletir sobre suas vidas. Não resta dúvida que seu “momento histórico” é estupendo.


Li que pediram bíblias para ler e estudar nas profundezas. Um pastor chileno reagiu ao seu desejo e “criou” pequenos livros sagrados de 8 x 12 centímetros. Essas eram as medidas que podiam ser repassadas pelo “túnel de contato”. Lá embaixo o ambiente era um tanto escuro e as letras muito pequenas, quase indecifráveis. O tal pastor resolveu o problema enviando pequenas lupas para facilitar a leitura. Na capa de cada uma das pequenas bíblias havia um decalque onde constava o nome do mineiro e um pequeno recado: - Estamos orando pela volta de vocês!


Outro detalhe que certamente chamou a atenção daqueles homens lá no fundo da mina foi o Salmo 40.2-3 que estava sublinhado em cada exemplar: “Tirou-me de uma cova perigosa, de um poço de lama. Ele me pôs seguro em cima de uma rocha e firmou os meus passos. Ele me ensinou a cantar uma nova canção, um hino de louvor ao nosso Deus. Quando virem isso, muitos temerão o Senhor e nele porão a sua confiança.”


Uma boa palavra, sem dúvida. Tu e eu vivemos inúmeras crises. Aqui e ali há “buracos” de injustiça, de discriminação e de exploração que nos “enlameiam”. Enquanto o “trem passa” vamos dando mínima atenção às pessoas que se engajam em “projetos de vida” isentos de “segundas intenções”. É que nossa educação priorizou a visão na “força” do mais articulado; do que “vende” o seu “produto” com mais convicção. Quais são as razões que movem estes indivíduos?...

Só a força e a ajuda de Deus é que valem. Nele experimentamos consolo dentro do desespero; resolvemos nossos “problemas” quando vem o sentimento do “afogamento nas águas do desespero”; quando somos rejeitados e discriminados. As “forças de fora” sempre visam nossa “implosão” como pessoas, mas Deus nos oportuniza mais “saúde” depois dessas tais crises. “Nada pode nos separar do amor de Deus.”

O que fazer depois destas experiências complicadas? O salmista faz duas sugestões: Não acomodar-se diante do que acontece, mas agradecer a Deus pela Sua ajuda; louvá-Lo pelos Seus grandes feitos. Colocarmo-nos com palavra e postura clara (profecia, agradecimento e louvor) diante do que é injusto, e isso em qualquer nível. Eis aí o perfil da “testemunha de Deus” que continua a agir dentro do mundo. Que Deus nos dê forças para sermos assim, a partir daqui deste grupo, deste lugar...

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Paciência e fé!
Por Renato Luiz Becker

Outro dia, na praia da Ilha de Patmos, o vidente João teve visão desta figura absurda, grotesca, hedionda e ridícula que sempre de novo mexe com a mente de muitas pessoas (Apocalipse 13.1-10): o Anticristo. Trata-se de um monstro com patas enormes; boca grande, agilidade felina e violência brutal. Trata-se de uma “figura” que consegue subir ao topo do mundo por causa de uma competência sem igual (2). Logo fica claro que se trata de uma “cópia” da morte e da ressurreição de Jesus Cristo (3). Essa “figura” acaba sobrepujando todas as listas de imitadores de Jesus Cristo; ela até se permite celebrar como salvador e bem-feitor do mundo. Pessoas de todas as nações, de todas as classes sociais, o louvam por causa dessa postura. Do seu lado (11), para auxiliá-la, se encontra o “profeta” mentiroso; o “propagandandista”; o “chefe” de uma igreja cujo culto tem o objetivo de idolatrar o Estado. É ele quem fomenta a crença; a adoração do ídolo como homem ideal. Sim! O Anti-Cristo e a Anti-Comunidade são uma farsa terrível que, com suas forças, objetivam fazer acontecer salvação, a partir de uma paródia (imitação cômica) de Deus. É hora de nos darmos conta da atualidade aterrorizante: O Inimigo de Deus agirá como o benfeitor da humanidade; como o salvador que encaminha o mundo a experimentar a felicidade. Quem é ele? Nós temos o seu misterioso número 666 (1.8) que, diga-se de passagem, sempre de novo é lembrado nos grandes momentos históricos e também nos contemporâneos: Nero, Domiciano, Napoleão, Hitler e Stalin já foram enquadrados. É de se perguntar por que este Anti-Cristo não se deixa identificar claramente (1 João 2.18). Só podemos dizer que seis é a metade de doze, o número da perfeição. Três números seis, um ao lado outro. Ele quer superar o que é perfeito, e mesmo assim sempre é meio, sempre está abaixo do que é perfeito. Só os fiéis sabem disso. A Comunidade está alertada para não cair nesta armadilha: O mundo pode ser desconcertado com a alegria e o entusiasmo, mas a cristandade não se deixará levar pela onda. Ela vai ficar firme. Não existe salvação em nenhum outro a não ser em Jesus Cristo. Pois é justamente aqui neste ponto que fica evidente a paciência e a fé dos santos. (10).

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A alegria da Páscoa!
Por Renato Luiz Becker


Introdução
A alegria transforma o nosso rosto. No passado a cristandade exercitava o “Risus paschalis”, a gargalhada pascal. Isso mesmo! O sacerdote suscitava o riso das pessoas presentes ao Culto com piadas e encenações para que a Comunidade, embebida em alegria, festejasse a vitória de Jesus Cristo sobre os obstáculos que a separava de Deus. Com esta idéia no coração, convido para a leitura de João 20.19-25...

19. Ao cair da tarde daquele dia, o primeiro da semana, trancadas as portas da casa onde estavam os discípulos com medo dos judeus, veio Jesus, pôs-se no meio e disse-lhes: Paz seja convosco! 20. E, dizendo isto, lhes mostrou as mãos e o lado. Alegraram-se, portanto, os discípulos ao verem o Senhor. 21. Disse-lhes, pois, Jesus outra vez: Paz seja convosco! Assim como o Pai me enviou, eu também vos envio. 22. E, havendo dito isto, soprou sobre eles e disse-lhes: Recebei o Espírito Santo. 23. Se de alguns perdoardes os pecados, são-lhes perdoados; se lhos retiverdes, são retidos. 24. Ora, Tomé, um dos doze, chamado Dídimo, não estava com eles quando veio Jesus. 25. Disseram-lhe, então, os outros discípulos: Vimos o Senhor. Mas ele respondeu: Se eu não vir nas suas mãos o sinal dos cravos, e ali não puser o dedo, e não puser a mão no seu lado, de modo algum acreditarei.

A alegria
O texto nos diz que os discípulos se alegraram por demais com a notícia da ressurreição de Jesus. Que eles festejaram a Páscoa com o coração transbordante da mais pura alegria. Sim, nossos rostos se transformam quando estamos alegres. Em tempos antigos a cristandade exercitava o “Risus paschalis”, a gargalhada pascal. O sacerdote suscitava o riso das pessoas presentes no culto com piadas e encenações. As pessoas riam alto dentro dos templos sem se importar com a santidade do ambiente. Para elas, Jesus Cristo tinha vencido todos os obstáculos que nos separam de Deus, e este fato tinha que ser festejado com boas gargalhadas.

Hoje é do senso comum que as pessoas sorridentes adoecem menos. O ato de rir mantém em alta os hormônios que espantam os quadros de estresse e depressão; melhoram o estado emocional do sujeito. Essa nova postura acaba influenciando o quadro imunológico do indivíduo. É assim que as emoções positivas recarregam o organismo da pessoa. Já as negativas a levam a adoecer, ou até pioram os seus quadros doentios.

Li de um palhaço famoso que sempre trabalhou em picadeiros com o objetivo de fazer as pessoas gargalharem, experimentarem felicidade. Numa certa noite, sem mais nem menos, foi visitado por uma depressão profunda. Logo que amanheceu o tal palhaço foi em busca de ajuda profissional. O psiquiatra, depois de examiná-lo, disse-lhe: “Olha meu amigo, você precisa rir mais. Há um circo aqui na nossa cidade, visite-o. O palhaço é muito bom. Grimaldi é seu nome – já ouviu falar?” O homem, cabisbaixo, respondeu: “Eu sou o tal palhaço.”

Gente querida, rir ainda é o melhor remédio. Hoje há cientistas que defendem o ato de rir como boa possibilidade de mais saúde para o indivíduo. Estes estudiosos atestam que as pessoas que muito riem têm mais possibilidades de experimentar a cura para as suas doenças. Estes pesquisadores sugerem que se estimule o riso a partir das emoções que vêm de passeios e ou das férias; a partir da atenção, da percepção, da memória, do raciocínio, do juízo, da imaginação do pensamento e da linguagem que desembocam numa boa piada; a partir da mecânica do ato de fazer cócegas.

A surpresa é fator muito importante tanto para os estímulos cognitivos (que brotam do ato de pensar) como para os motores. Nestes casos torna-se necessário uma boa comunicação. É assim que quando o nosso cérebro se depara com um bom estímulo, ele acaba liberando a possibilidade da gargalhada. A pessoa que ri riso solto movimenta mais de cem músculos do rosto e do sistema de respiração. Uma boa gargalhada é capaz de mexer com todo o organismo da pessoa. Por isso: Sorriam! Estamos quase festejando a Páscoa! Alegrem-se! Jesus ressuscitou! Ele venceu a morte...

Oração
Querido Deus, presenteia-nos com a alegria pascal. Que as pessoas que nos cercam possam perceber e usufruir essa alegria inexplicável que pulsa dentro da nossa vida. Tu livraste e fortaleceste o Teu povo através da ressurreição do Teu Filho amado. Permanece conosco e enche-nos do Teu amor; guia-nos pelos caminhos da liberdade para que a alegria da Páscoa que hoje é realidade em nossos corações nunca se acabe e isto, até nos encontrarmos contigo no teu Reino. Amém!

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O sumo sacerdote perfeito!
Por Renato Luiz Becker

Introdução
Querida Comunidade! Proponho refletirmos sobre o tema “sofrimento”. A poetisa Cecília Meireles nos ajuda: “Aprendi com as primaveras a me deixar cortar e voltar inteira.” O dramaturgo Ésquilo (500 a.C) também nos auxilia nesta proposta: “A aprendizagem (mudança de comportamento) vem do sofrimento, dessa graça brutal oriunda dos deuses.” Outro dia li sobre as flores... Certas variedades de rosas se tornam de 30% a 40% mais aromáticas à noite que de dia. Claro que este fenômeno também pode acontecer com pessoas atingidas por momentos de amargura, de desilusão e de sofrimento. Penso que o texto de Hebreus 4.14-16; 5.7-9 nos seja útil para, nesta Sexta-Feira Santa, tratarmos da temática “sofrimento”. Vamos ao texto?

A alavanca do aprendizado A Palavra Bíblica que acabamos de ler aponta para Jesus Cristo como um “pastor perfeito”; um sacerdote capaz de trazer Deus até nós; de nos levar até Deus. O texto explicita que Jesus “atravessou os céus”; que o filho de Deus não tomou conhecimento de qualquer limite bloqueador de Sua passagem para assentar-se à Direita de Deus e assim, de lá, desenvolver Seu ofício sacerdotal de aproximar-nos de Deus.

O advento do cristianismo teceu no coração, no intelecto das pessoa a idéia de Deus como um “Pai amoroso”. Isso foi novidade. Para o povo judeu Deus era santo, diferente, pertencente à outra esfera de vida. As grandes escolas filosóficas da época sustentavam que Deus era “apático”, incapacitado para sentir alegria ou tristeza. Elas classificavam a alegria e a tristeza como interferência (afetação) de fora. Elas defendiam a tese que se alguém de fora tivesse o poder de interferir na pessoa de Deus, então este alguém se mostrava superior Àquele que afetava. Noutras palavras: Ninguém podia fazer nada a Deus; ser maior do que Deus e, portanto, Deus deveria ser completamente incapaz de sentir alegria; felicidade; tristeza; pesar; sofrimento.


Pois é justamente neste mundo com compreensões tão diferentes de Deus que o cristianismo é introduzido. Neste novo momento se prega que Deus vive as alegrias e as tristezas da experiência humana. Não é preciso ser nenhum superdotado para perceber que essa proposta cristã revolucionou as relações da humanidade com Deus. Durante séculos tinha se acariciado a idéia de que Deus era intocável e agora, de repente, se diz que Deus, na pessoa de Jesus Cristo, se submete a tudo o que as mulheres e os homens também se submetem. Difícil de absorver...

Sim! Jesus é o “Sumo Sacerdote misericordioso” que amou sem esperar nada em troca; que caminhou no ritmo da humanidade e que, por isso mesmo, experimentou a periculosidade dos abismos, a insegurança das tensões e a dor das tentações; que lutou com todas as Suas forças para vencer as tentações impostas pelo Inimigo Maior de Deus. Sim, Jesus sofreu tentações bem mais intensas do que as nossas e isso, sem desmaiar. Jamais alguém foi tentado como Ele. A Bíblia sublinha que Jesus foi tentado com a “exceção do pecado”. O fato é que a experiência de “sofrimento” vivida por Jesus fez Dele um homem extremamente simpático, empático, capaz de sentir a nossa dor exatamente como a sentimos; capaz de perceber o nosso prazer tal como o percebemos, e isso tudo, sem perder de vista que se trata da nossa dor, do nosso prazer.
Quer dizer: Deus conhece e entende o Seu povo. Outro dia eu fiquei pensando, refletindo sobre as experiências que vivi. Não é assim que quando uma pessoa não é capaz de entender a outra, ela a condena? Claro que sim! Deus não age assim. Ele nos entende e é por isso que nos perdoa. Não há nenhum âmbito da experiência humana do qual Deus não possa dizer: “Eu estive ali, experimentei aquilo ali, conheço o contexto daquela situação”. Quando temos uma história triste e lamentável para contar; quando a vida nos promove “sofrimento”, então não nos dirigimos a um Deus que seja absolutamente incapaz de entender o que nos aconteceu, mas buscamos um Deus que já experimentou o que experimentamos.

Deus sabe ajudar. Ele conhece os nossos problemas porque passou pelos mesmos. Já se deram conta que a melhor pessoa para pedirmos informação a respeito de um trajeto que nos seja estranho é sempre aquela que já fez o tal trajeto? Os entendidos em aconselhamento dizem que as pessoas que mais bem ajudam a curar as feridas promovidas por uma enfermidade sempre são aquelas que já experimentaram a tal doença. Quer dizer: Deus pode ajudar porque sabe fazê-lo; porque entende do riscado. Fica explícito que Jesus é o nosso “Sumo Sacerdote”. Ele é o nosso “Bom Pastor” porque é perfeito Deus e perfeito homem; porque é conhecedor da nossa vida. É por isso que Ele pode ser simpático, empático, misericordioso e querido conosco. Jesus trouxe Deus a nós e pode levar-nos a Deus.

Jesus cunhou este entendimento na escola da vida terrena onde viveu Suas experiências amargas de “sofrimento”. O texto lido nos recorda do “sofrimento” de Jesus no Jardim do Getsêmani. Ali Jesus ora, clama, suplica e derrama lágrimas. Quem “clama” não consegue expressar o que sente. Há sofrimentos que só se arrancam de dentro do peito a partir da experimentação da angústia e da agonia que brotam das tensões e da dor. Para o escritor grego Heródoto “o sofrimento era um modo desgraçado de se aprender”. Outro dia ouvi alguém do nosso meio dizer: “Nossas confirmandas e nossos confirmandos sofreram aprendizado...” Que fique bem claro: Não existe agonia do espírito humano pela qual Jesus não tenha passado. Ele “aprendeu” de todas as experiências humanas pelas quais passou, porque as enfrentou com reverência.


Deus fala à humanidade nas múltiplas experiências de vida que ela “sofre”. Só consegue escutar a voz Deus aquele que, reverente, aceita o que acontece à sua volta. Se a nossa aceitação estiver marcada por ressentimentos, então os gritos rebeldes do nosso próprio coração nos farão surdos à voz de Deus. A experiência pela qual Jesus passou na Sexta-Feira Santa capacitou-O à perfeição. Só depois desta experiência, deste aprendizado, é que Ele ficou apto a desempenhar a Sua função de “Aproximador” de Deus da humanidade; da humanidade de Deus. As experiências sofridas por Jesus na cruz O capacitaram a ser o perfeito Salvador e Redentor de todos os povos; de todas as raças. Paulo nos ajuda a compreender essa questão quando escreve: “...nada poderá nos separar do amor de Deus manifestado em Cristo Jesus, nosso Senhor” (Romanos 8.39).

Conclusão A Sexta-Feira Santa é de grande importância para a humanidade. Jesus “adormeceu” depois de muito “sofrimento”. Quando Deus O “acordou” do “sono da morte” Ele já tinha “sofrido aprendizado” e estava apto a interferir, a mudar o rumo da História. Essa interferência tem nome: Páscoa. É impressionante, é maravilhoso, é profundamente esperançosa a Páscoa. Ao sair de dentro “da noite” (do túmulo) para a “claridade” (vida) Jesus trouxe o “perfume de Deus” ao mundo. Esse perfume mexe conosco, pode mexer conosco, aqui e agora... Caminhemos, corramos rumo à essa alegria. Amém!

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"Aceitamo Tiquete"
Por Renato Luiz Becker


Meu avô gostava de circo. Foi ele que me induziu ao amor pela arte domingueira, debaixo da velha lona. Já na adolescência, conheci uma linda loirinha interiorana. Pedi-a em casamento e, dessa relação, nasceram dois rebentos. Logo que possível, repassei meu gosto-menino aos filhos. Ainda sinto na pele a tensão gerada pelos equilibristas, pelos trapezistas e pelos motoqueiros que poluíam o ar, a partir do globo da morte. Vasculho a lembrança e meus olhos ainda percebem as réstias de alegria estampada naqueles rostinhos imberbes. Nos meus ouvidos ainda se reproduzem as doces gargalhadas, tão espontâneas, que brotavam das palhaçadas. O barulho das crianças sempre coloria os bons circos, pois estes, sempre possuíam bons palhaços.

Estou pastor, faz quase trinta anos. Já rodei alguns mil quilômetros por entre dezenas de Paróquias e Comunidades da Igreja. Vi homens e mulheres doando daquilo que Deus lhes deu de melhor, para o engrandecimento das mesmas. Também observei pessoas convertendo cargos igrejeiros em trampolins de gozo próprio. Foi com o auxílio de alguns e com o repuxo de outros, que os pequenos sinais do Reino de Deus nunca regrediram. Trata-se de um milagre que se repete, a cada dia. Leio o Antigo Testamento e de lá me vem informações de que o povo de Deus sempre caminhou, caminha desinstalado. Marcado por essa imagem folheio o Novo Testamento. Jesus e os seus apontavam para uma proposta sem pedras angulares. Adorar a Deus não apenas no templo ou no monte, mas em qualquer lugar. O apóstolo Paulo plantava núcleos de adoração e serviço e, quando ia embora, deixava “pastores” para que administrassem fé e vida. No mundo cristão, este modo de ver e fazer as coisas subsiste até os dias de hoje.

No meio desse vento, eu vou. Acordo-me, tomo café e, depois, mesmo desanimado, me revisto de ânimo. Saio pelas calçadas e apresento projetos. Visito gentes e as desafio a “brincar” junto. Invado a tarde e, mesmo cansado, faço-me otimista. Circulo pelas alamedas e distribuo sorrisos. Convido as pessoas a somarem junto. Adentro na noite e, mesmo exaurido, dou passos em frente. Sento-me nas salas de estar e fico a escutar. Sustento que é da essência das ovelhas dar a lã. Volto para casa. Avalio minha jornada e concluo: carrego semelhanças com o bom palhaço. Visto o talar e, da sacristia, ouço em alto e bom tom a propaganda que vem da rua: - “Aceitamo tiquete”!